quinta-feira, 9 de agosto de 2018

A Construção do meu Tambor Xamânico

Durante alguns anos eu via o anúncio da construção de Tambores Xamânicos, com Tony Paixão,  e ligava para Dani Aguiar perguntando se ele fazia tambor com material sintético. A resposta era sempre a mesma: não era possível a utilização de material sintético.
Ficava triste ao pensar no absurdo de não haver a possibilidade de se trabalhar com material sintético.
Um dia, resolvi fazer aulas de Terapia utilizando as técnicas de Cura do Xamanismo, afinal, poderia utilizar o chocalho, que nada tinha a ver com o absurdo da utilização da pele de um animal para a cura. Para mim soava sempre como contraditório usar a pele de um animal morto para a cura.
Muito bem...fazendo o curso e novo chamado para a confecção de tambores...
Meu lado contrário, agora frente a frente com o vilão Tony Paixão, foi inquiri-lo sobre a utilização da pele do boi para confecção do tambor. Coloquei meu ponto de vista, que eu como uma pessoa vegetariana não me sentia à vontade de utilizar a pele do animal para confeccionar o tambor...
Ele me perguntou se eu conseguia evitar a utilização de todos os objetos de origem animal: bolsas, sapatos, cintos, remédios, alimentos, etc...Respondi com veemência que não usava.
mas mesmo com todas as minhas reservas, algo em mim exigiu que eu fizesse o tambor. (e não era um obsessor!)
No dia marcado, fui. Escolhemos o arco de madeira e o Tony explicou como fazer com a pele. Tínhamos que  pegar a pele numa tina cheia de água...aquilo fedia...me lembrava das bexigas de boi que meus irmãos compravam no matadouro para vender como bolas da fantasia de bate bola, muito comum nos subúrbios do Rio De Janeiro.
Peguei a pele, com as pontas dos dedos...fiz os furos...peguei as tiras de couro e trancei tudo como o Tony ensinou. Sempre com aquela cara de nojo...o Tony me observou e disse que muita gente se sentia da mesma forma, mas que eu observasse com qual aspecto da natureza eu precisava me reconciliar....Não preciso dizer que achei super estranha essa observação...
Enquanto trançávamos os tambores, Tony falava sobre Xamanismo, que ele não era um Xamã, mas um Homem do Caminho com atribuição de conduzir dois rituais Xeyenes: A Tenda do Suor e A Cerimônia do Peyote.
O trançamento final do tambor era feito pelo próprio Tony, para garantir uma boa afinação, o que é dado pelo bom esticamento da pele no arco.
Ao final do Processo, nos retiramos para nossas casas. Era um sábado.
Dia seguinte, um domingo, começo a ouvir o som de gaviões, numa enorme mangueira em frente à varanda de meu apartamento. Eu e meu marido contamos uns seis. Eu só ouvia o som. Meu marido os via. 
Quando ouvi aquele alvoroço, vim para a varanda e comecei a bater palmas para espantar aqueles gaviões, pois ele poderiam matar os passarinhos menores que costumavam ficar nessa árvore...
Nesse momento ouvi uma voz dizendo: Quem é você para decidir quem tem direito à vida?
Fiquei parada e disse: Ahoo, entendi...
Depois disso quase todos os gaviões voaram para longe, restando apenas um, que se fez muito visível para mim...e voou para longe...me emocionei e o cumprimentei agradecendo a lição.
Nessa Terra sempre precisamos extrair de outro ser vivo, seja animal ou planta, o que necessitamos para mantermos nossos corpos . Essa é uma lei da qual não podemos fugir. Leões matam veados, Tamanduás comem formigas, homens se alimentam de carne animal, plantas, frutas, frutos e ovos...A não ser que nos alimentemos direto do prana que absorvemos dos animais ou plantas, teremos que matar para nos mantermos vivos. Essa era a Lei com a qual tinha que me reconciliar, da qual o Tony falou. Os gaviões vieram me trazer essa mensagem.
Existem as lendas indígenas que contam sobre a forma como o antílope e o búfalo vieram se oferecer para alimentar os índios, pois caso contrário todos pereceriam...
Me emociono ao contar esse episódio e lembrei disso tudo depois de uma aula na Escola Vida, com Hilário Trigo, em que foi abordado o assunto de que no hinduismo se diz que são necessárias  oito milhões de encarnações antes que o espírito possa encarnar como humano. Os animais se oferecem como contribuição para a manutenção de muitas vidas e com isso chegam mais perto de conseguir encarnar como humanos.
O tambor xamânico feito de pele se insere no oferecimento do animal como contribuição para a cura do Humano. A energia vital é oferecida para o processo de restabelecimento da energia vital do humano.
Continuo sendo ovolactovegetariana. Mas uso meu tambor e sei que ele restabelece as energias. Mistérios com os quais temos que conviver...
Nesse planeta todos somos formados pelos elementos da Mãe Terra e os devolveremos após a morte. Por vezes é mais respeitoso comer o que os seres da Terra nos oferecem, do que nos enclausurarmos num ponto de vista e ofendermos o que nos é ofertado a partir do coração e que permite que haja a evolução desse ser...
Mistérios da Terra! Honrar quem se dá por amor...
Gratidão aos Gaviões, que  nunca mais  foram vistos na mangueira em frente à minha varanda...só vieram me trazer a mensagem.